Imagem: print screen da notícia
do DC/NSC
A cobertura das ocorrências de neve já
virou motivo de piada no meio jornalístico de Santa Catarina. A pauta é sempre
a mesma: o deslumbre dos turistas (e repórteres), a abundância de roupas para
enfrentar o frio, a campanha do agasalho, a lotação esgotada de hotéis e
pousadas na Serra, a tentativa de confecção de bonecos de neve enlameados. Em
caminho oposto, duas matérias se destacaram na edição de 30 de julho, uma no
Portal ND+ e outra no DC (Portal NSCTotal). No primeiro, as dificuldades de
famílias empobrecidas diante das baixas temperaturas; no segundo, a ligação
entre o frio atípico da semana que passou e a crise climática.
Assinada pela jornalista Ângela Bastos,
a notícia do DC aborda o quanto o frio afeta o cotidiano de famílias que moram no
Maciço do Morro da Cruz, que se estende de Norte a Sul no Centro de
Florianópolis. A repórter descreve o espaço geográfico, as moradias precárias e
detalha as medidas desesperadas das famílias para tentar se aquecer, como tapar frestas das casas com papelão e folhas de jornal e se esquentar
com o calor do corpo de outro membro da família, com pais e filhos dormindo
juntos. A notícia, em https://bit.ly/2UZp6Ww, sai do lugar comum da cobertura jornalística local, que costuma associar
a pobreza à destruição da natureza.
Intitulada “Frio atípico em SC é sinal
de alerta para impactos do aquecimento global”, em https://bit.ly/3j16Vrg, a notícia do ND+, assinada por Lorenzo
Dornelles, traz como fontes pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFGRS) e do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Mesmo sem
aprofundar a explicação, a notícia busca estabelecer a relação entre os recordes
de temperaturas mínimas no âmbito regional, com 0°C em Florianópolis e -8,6°C
em Bom Jardim da Serra, por exemplo, e de máximas em outros países, como o Canadá
e os Estados Unidos, onde houve temperaturas acima dos 50°C nas últimas semanas.
Na mesma edição, outra notícia, em https://bit.ly/2V6n9aG, falava sobre um migrante do Pará socorrido com início
de hipotermia após pernoitar em uma área de mata em Concórdia, no Oeste do
Estado, sob temperatura de 0°C.
Ainda que pouco densas, matérias como
essas abrem caminhos promissores para veículos e jornalistas de Santa Catarina
em busca de abordagens mais totalizantes para a pauta sazonal da chegada do
frio e da neve. Para enriquecer essa
cobertura, é importante apostar na pluralidade de fontes e interpretações,
ouvir as pessoas afetadas pelo frio fora do circuito do turismo deslumbrado e
questionar o posicionamento do poder público sobre as medidas a serem tomadas
para mitigar esses impactos. Além disso, cada vez mais é fundamental aprofundar
as conexões entre a neve e outros fenômenos que também são decorrentes das
mudanças climáticas.
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