domingo, 1 de agosto de 2021

Jornalismo de neve: o mesmo de sempre? Nem sempre

 

Imagem: print screen da notícia do DC/NSC

A cobertura das ocorrências de neve já virou motivo de piada no meio jornalístico de Santa Catarina. A pauta é sempre a mesma: o deslumbre dos turistas (e repórteres), a abundância de roupas para enfrentar o frio, a campanha do agasalho, a lotação esgotada de hotéis e pousadas na Serra, a tentativa de confecção de bonecos de neve enlameados. Em caminho oposto, duas matérias se destacaram na edição de 30 de julho, uma no Portal ND+ e outra no DC (Portal NSCTotal). No primeiro, as dificuldades de famílias empobrecidas diante das baixas temperaturas; no segundo, a ligação entre o frio atípico da semana que passou e a crise climática.

Assinada pela jornalista Ângela Bastos, a notícia do DC aborda o quanto o frio afeta o cotidiano de famílias que moram no Maciço do Morro da Cruz, que se estende de Norte a Sul no Centro de Florianópolis. A repórter descreve o espaço geográfico, as moradias precárias e detalha as medidas desesperadas das famílias para tentar se aquecer, como tapar frestas das casas com papelão e folhas de jornal e se esquentar com o calor do corpo de outro membro da família, com pais e filhos dormindo juntos. A notícia, em https://bit.ly/2UZp6Ww, sai do lugar comum da cobertura jornalística local, que costuma associar a pobreza à destruição da natureza.

Intitulada “Frio atípico em SC é sinal de alerta para impactos do aquecimento global”, em https://bit.ly/3j16Vrg, a notícia do ND+, assinada por Lorenzo Dornelles, traz como fontes pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) e do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Mesmo sem aprofundar a explicação, a notícia busca estabelecer a relação entre os recordes de temperaturas mínimas no âmbito regional, com 0°C em Florianópolis e -8,6°C em Bom Jardim da Serra, por exemplo, e de máximas em outros países, como o Canadá e os Estados Unidos, onde houve temperaturas acima dos 50°C nas últimas semanas. Na mesma edição, outra notícia, em https://bit.ly/2V6n9aG, falava sobre um migrante do Pará socorrido com início de hipotermia após pernoitar em uma área de mata em Concórdia, no Oeste do Estado, sob temperatura de  0°C.

Ainda que pouco densas, matérias como essas abrem caminhos promissores para veículos e jornalistas de Santa Catarina em busca de abordagens mais totalizantes para a pauta sazonal da chegada do frio e da neve.  Para enriquecer essa cobertura, é importante apostar na pluralidade de fontes e interpretações, ouvir as pessoas afetadas pelo frio fora do circuito do turismo deslumbrado e questionar o posicionamento do poder público sobre as medidas a serem tomadas para mitigar esses impactos. Além disso, cada vez mais é fundamental aprofundar as conexões entre a neve e outros fenômenos que também são decorrentes das mudanças climáticas.


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