segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Em Florianópolis, a revivida farsa do desenvolvimento sustentável

Capa do livro da EdUFSC (2006)

Na campanha do jornal Notícias do Dia, do Grupo ND, pela aprovação do Projeto de Lei Complementar 1.801/2019 (do prefeito Gean Loureiro), que previa a “demolição sumária” de moradias e tramitou em agosto na Câmara de Vereadores, havia, em reportagem publicada no dia 21 daquele mês, referência à posição da ACIF (Associação Comercial e Industrial de Florianópolis). O Grupo ND mostrava-se indignado por causa de emenda dos vereadores de oposição que retirava o projeto de pauta e assim destacou, em nota intitulada “Retrocesso”, a manifestação da entidade empresarial: “A Acif (Associação Empresarial de Florianópolis) emitiu nota onde considera a apresentação da emenda um retrocesso legal, que funciona como estímulo às invasões e à ocupação desordenada, em detrimento do desenvolvimento sustentável da cidade”.


Ora! Quem conhece a articulação empresarial que desde os anos 80/90 busca burlar e/ou modificar a legislação para faturar com a especulação imobiliária na capital já desdenha o suposto receio da Acif com a ocupação por ela considerada “ordenada”. E desdenha mais ainda a menção ao desenvolvimento sustentável, algo que ainda azeita a boca dos grupos dominantes da cidade, ávidos do lucro que a terra da Ilha da Magia pode lhes proporcionar.


Por isso me pareceu uma boa hora para digitalizar e disponibilizar a pesquisa que fiz para a dissertação defendida em 2004 no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSC, com orientação do professor José Nazareno de Campos, e que em 2006 virou o livro “Quando a palavra sustenta a farsa: o discurso jornalístico do desenvolvimento sustentável”, publicado pela Editora da UFSC e esgotado.


A dissertação estrutura-se em três diferentes áreas de conhecimento, Geografia, Jornalismo e Análise de Discurso, para investigar o discurso jornalístico do desenvolvimento sustentável e sua relação com o espaço geográfico. A pesquisa foi um marco a partir do qual, 15 anos depois, em 2019, aprofundo e defendo, já em tese no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC, que o espaço, tanto quanto o tempo, é constitutivo do fazer jornalístico.


Mais uma vez recorri ao Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) para, pela jornalista Elaine Tavares – que escreveu o texto da “orelha” de meu livro – abrigar o PDF da dissertação, que está em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/218958


Passada década e meia daquela crítica, a patacoada do tal desenvolvimento sustentável continua a irromper no discurso de empresários e de jornalistas.


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