Li com atenção o relatório do TransformaJor/UFSC sobre a pesquisa com 604 respondentes investigando a relação com o jornalismo local, apresentada semana passada na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Destaco um achado: na pergunta sobre os 20 perfis de mídias sociais aos quais as pessoas mais dizem recorrer para se informar sobre Florianópolis, o perfil do Instagram “Floripa Mil Grau”, um canal de humor, foi mencionado 152 vezes, o equivalente a 33% do total de respostas. Topo da lista. Outras 66 pessoas (14,3%) disseram recorrer a perfis de mídias sociais para obter informações sobre a cidade, mas não se lembram do nome/endereço do perfil. Em terceiro e quarto lugar, estão o perfil da Prefeitura de Florianópolis e o do prefeito Topázio Neto.
É aterrador. Um retrato da miséria do jornalismo catarinense.
Li que a pesquisa vai continuar e faço algumas considerações. Quem, como eu, pesquisa o jornalismo contra-hegemônico, sabe que a questão não é fundamentalmente saber de que forma e por quais temas as pessoas se interessam, e sim levar a elas temas de interesse para a compreensão da realidade a serviço da emancipação humana.
Nessa direção, trago reflexões das jornalistas Elaine Tavares e Cátia Guimarães. Tavares, em um de seus livros, “Jornalismo nas margens: uma reflexão sobre a comunicação em comunidades empobrecidas”, trabalha com a ideia de que é preciso contar as histórias dos oprimidos, dos deserdados, dos desvalidos, que é preciso narrar o mundo do ponto de vista da realidade do outro, do que está fora do centro. Na mídia hegemônica, se dá o oposto: o ponto de vista predominante é o do poder, dos grupos dominantes.
Para o enfrentamento da hegemonia no campo da comunicação que se pretende contra-hegemônica e libertadora, é preciso, diz Guimarães em sua tese, um deslocamento necessário: 1) do esclarecimento para a construção da consciência, e 2) da mudança do sujeito para quem essa prática deve se voltar, movendo-se do indivíduo para a classe. Ainda segundo Guimarães, para pensar as ferramentas de construção da consciência e da hegemonia da classe trabalhadora, é preciso assumir o trabalho jornalístico como parte de um empenho de direção política e cultural e reconhecer que a classe trabalhadora não pode se construir como público, artificial e discursivamente, e sim como organização social concreta, da qual o jornal é instrumento, nunca um fim em si mesmo.
Em Florianópolis, o movimento sindical, popular e os partidos do campo progressista simplesmente não se movimentam para construir este caminho. Das outras grandes cidades do estado, nem falo. Enquanto isso, aqui na ilha/capital de jornalismo de verdade desterrado, Floripa Mil Grau e Topázio Neto é que vão se passando por jornalismo. É de caírem os butiás do bolso. Pelo menos para mim.