quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Ensaio apresenta método de reportagem para trazer o espaço ao texto


Divulgado o Caderno de Trabalho 1 do Grupo de Trabalho 15 (Comunicação e Cidade) da Associação Latino-americana de Investigadores de Comunicação (ALAIC). Intitulado “Habitar em tempos de transformações”, o caderno traz meu ensaio “Jornalismo e espaço: método de reportagem”, a partir da página 22. 

O ensaio aponta elementos para um método de reportagem capaz de permitir ao jornalismo e aos jornalistas se situarem no espaço e no texto. Ele nasceu a partir da leitura de Adelmo Genro Filho, pesquisador e professor brasileiro criador de uma teoria marxista do jornalismo, e da obra de Henri Lefebvre, ambas enlaçadas em minha tese sobre o espaço no jornalismo (2019). O enlace deixou uma ponta solta agora explorada, a ideia de o método regressivo-progressivo de Lefebvre contribuir para a construção de um método na reportagem capaz de alcançar, de forma crítica, as temporalidades e espacialidades com as quais os jornalistas lidam na cobertura jornalística do e no espaço.

O Caderno de Trabalho com o ensaio está neste link: https://itcidades.org.br/wp-content/uploads/2024/08/Cuaderno-1-GT-15-ALAIC.pdf

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Política, jornalismo e olhos de libélula

 


Há poucos dias, caminhando nas proximidades da Câmara de Vereadores de Florianópolis, ouvi uma conversa. Um rapaz perguntava a uma moça sobre um vereador:

– Mas ele é de que bairro?

Isso de vereador “de bairro” deve ser herança das Intendências. E quem acompanha a Câmara de Florianópolis nota que a política ali se move pelo bairro. Não é por acaso o desconhecimento, desinteresse, estupidez e má-fé da maioria dos legisladores pelos grandes temas da cidade. Só tratam da vida do bairro, onde muitas vezes reina a troca de favores por votos. Vereador “da cidade” são poucos, aqueles de olhos de libélula para ver a cidade de cabo a rabo.

Daí nasce a reflexão para hoje: falar de “meio ambiente”, “desenvolvimento sustentável” e “justiça climática” agora é moda em campanhas eleitorais da esquerda à direita. É “politicamente correto” incluir o tema nas propostas para o Executivo e o Legislativo. Mas há que recordar uma reflexão do geógrafo Milton Santos: o discurso sobre a coisa, no nosso tempo, tomou o lugar da coisa. Nas redes sociais é pior ainda.

Então o caminho para ver o que está atrás do discurso é a práxis. Ação na vida cotidiana orientada por conhecimento. Um critério: onde estavam e como se movimentaram os corpos desses discursos nas grandes lutas da cidade para defendê-la dos vendilhões a serviço do lucro de poucos?

Algumas grandes lutas: 1) o Levante do TAC (Teatro Álvaro de Carvalho), em 2010, contra a proposta de revisão do Plano Diretor do então prefeito Dário Berger; 2) a mobilização popular contra a instalação do Estaleiro da OSX em Biguaçu; 3) a irrupção da Ocupação Amarildo de Souza no Norte da Ilha, gerando inédita criminalização jurídico-midiática; 4) a mobilização popular em 2013 e 2014 mais uma vez em protesto contra as mudanças no Plano Diretor na gestão do então prefeito César Souza Júnior, sob forte repressão policial; 5) a luta pela Ponta do Coral 100% Pública e contra os emissários submarinos e seus impactos ambientais, assim como as grandes marinas, os “engordamentos” de praias e a despoluição de baías, que consumiu milhões para nada; 6) a defesa das lagoas, rios, águas marinhas, manguezais, restingas, áreas de preservação permanente e unidades de conservação; 7) a mobilização popular a partir de 2020 mais uma vez em protesto contra as mudanças no Plano Diretor na gestão do então prefeito Gean Loureiro e depois de seu vice e hoje prefeito, Topázio Neto, mudança esta sacramentada em melancólica votação na Câmara de Vereadores em 2023.

A falta de memória beneficia quem some com o corpo e aparece com o discurso. O jornalismo local, a serviço e a soldo dos interesses da atual gestão da prefeitura, joga a pá de cal na possibilidade de confrontar as candidaturas. Perguntas que não perguntam, respostas que nada dizem, encenação de jornalismo e de política.

Uma aula sobre como fazer? A edição de 26/27 de abril de 1986 no Jornal de Santa Catarina, o velho Santa impresso, que encontrei graças à jornalista Roseméri Laurindo, que entrevistamos para o projeto Repórteres SC, da equipe da Pobres & Nojentas. Ela guardou, entre outras, uma página dupla do standard, sem anúncio, com o seguinte título e linha de apoio: “OCUPAÇÃO DO SOLO: em debate as garantias de preservação da Ilha”. Ali está a síntese de uma mesa-redonda organizada pelo Santa, de duas horas e 30 minutos, para debater a regulamentação do chamado Plano Diretor dos Balneários e o processo de urbanização da capital. Foram nove convidados de diferentes campos de atuação e pontos de vista.

Em apenas duas páginas, um instigante retrato da cidade naquele período, ainda mais hoje, quando a prefeitura e o empresariado são as fontes predominantes a desfilar no jornalismo local revirando a cidade, plantando cimento e falando em “inclusão” e “desenvolvimento sustentável”. Destaque para as perguntas da jornalista: inteligentes, provocativas, capazes de instigar os entrevistados a efetivamente se expor, olho no olho, na mesa do jornal e na edição depois impressa. Roseméri e o Santa fizeram outras dessas, uma delas sobre a falta de moradia em Santa Catarina nos anos 1980 e com a qual estou escrevendo um artigo. Bah, Rose!

A eleição se alimenta da desconexão da política com a vida cotidiana, real, concreta. Desconexão que também é a marca do que se pratica como jornalismo hoje. Há que perseguir o Jornalismo. O Jornalismo que dá a volta nas coisas para nelas flagrar o mal dito no discurso. O escritor José Saramago ensina isso no documentário “Janela da Alma”. Ele fala sobre a coroa mui apreciada do Camarote Real no Teatro de Lisboa. De longe e de frente, enorme, dourada, magnífica. Mas, vista de trás, oca, repleta de pó e teias de aranha. Logo ele aprendeu uma lição da qual nunca se esqueceu: “Para conhecer as coisas, há que dar-lhes a volta. Dar-lhes a volta toda."

Sim! Político “da cidade” tem que ter olhos de libélula. E jornalista também!



Artigo mostra iniciativas da mídia independente que abordaram/abordam as lutas por moradia em Santa Catarina


Episódios importantes das lutas por moradia em Santa Catarina foram e são contados por um conjunto bastante variado de iniciativas de comunicação/jornalismo. Identifico neste artigo, para o Instituto Cidade e Território (ITCidade), do qual sou colaboradora, parte destas iniciativas – totalizando 11 – dos anos 1980 até a atualidade, na região de Florianópolis/SC, buscando abrir caminhos às pesquisas que aprofundem a análise dos materiais apresentados.

As iniciativas listadas são da chamada mídia independente – sem desconhecer o fato de que a mídia tradicional também aborda as lutas, ainda que de forma eventual e, de regra, criminalizando seus protagonistas – e de organizações à frente das lutas por moradia no estado.

Confira em bit.ly/3WU4muT

Memórias do primeiro jornal

Meus 20 anos na redação da FH Eu era auxiliar de escritório em uma rede de supermercados de Caxias do Sul em meados de 1990. Entrava na segu...